A Vida que Ninguém Vê, de Eliane Brum

     Por Millena Araujo 


     Vou compartilhar no blog um texto que escrevi ano passado para cadeira de Radiojornalismo III, que na verdade, foi redigido em sala porque era minha prova. Decidi reproduzir o mesmo texto aqui porque a obra de Eliane Brum é gostosa de ler  e ao mesmo tempo leva o leitor (seja ele jornalista ou não) a refletir o mundo de uma maneira mais sensível. O texto não é uma resenha, mas uma analise da obra. 

     O livro A Vida que Ninguém Vê, de Eliane Brum, tem como tema central contar histórias que quase nunca são pautas das mídias diárias. Histórias esquecidas pelo jornalismo. Histórias de pessoas simples, mas que podem falar pelo todo e que fazem o leitor do livro refletir sobre a realidade. Uma crônica, a do carregador de malas é um exemplo de reflexão. Quantas e quantas vezes os "doutores" passam por essas pessoas e não conseguem enxergar a realidade que os cerca? O carregador de malas nunca tinha viajado de avião, mas estava sempre perto do sonho que tinha. Outra crônica que deve ser citada é a da menina Camila, que pedia dinheiro com versinhos nos sinais. E mesmo depois de sua morte, os versinhos continuam vivos. A autora consegue inteligentemente explorar esse universo e fazer os leitores pensarem nessas realidades. Com uma linguagem simples, riqueza de detalhes e ao mesmo tempo e ao mesmo tempo profunda, Eliane Brum dá vida a esses personagens reais fazendo com que o leitor consiga vê-los de perto. 
       No final do livro a autora explica muito bem o motivo de explorar esse universo no jornalismo. E explica isso com o famoso exemplo do cachorro e do homem, ela diz que não é apenas o homem que morde o cachorro que interessa, mas também o simples e esperado fato do cachorro morder o homem. O que existe por trás dos comportamentos, mesmo que os mais óbvios? Por trás deles existem histórias. E o livro retrata isso. Uma realidade que ninguém vê, uma realidade que está ao alcance de todos diariamente, mas que é esquecida, que passa despercebida. E justamente por não ser mostrada, essa realidade pode ficar camuflada e nunca ser objeto de reflexão por parte da sociedade. A vida que ninguém vê é um livro jornalistico que explora histórias comuns.  E que emociona. 
        Eliane Brum fala do jornalismo. E crítica o jeito de fazer jornalismo apenas usando artifícios como o telefone e o E-mail. Não, a autora não é contra a tecnologia, mas relata que o repórter pode e deve fazer mais que isso. Que desconfiar é necessário. Que um olhar, um gesto também contam como reposta. E que apesar de todo o "sufoco" em busca da notícia, o jornalismo é uma profissão fascinante. Ela retrata também, como o jornalismo é uma atividade emocionante, que ele dá sempre frio na barriga e insônia na hora de se produzir a notícia. Ela também fala da maneira plural em que vê o mundo (não se conformando com o de sempre), o que contribuiu para escrever essas crônicas. A autora sabe exercitar sua sensibilidade, ela afirma que uma experiência marcante foi deixar de cobrir uma pauta na prefeitura por um caso que na hora ela considerou importante. E era importante, pois foi capa de todos os jornais na época. Isso demonstrou sensibilidade aflorada pela jornalista. 
           Eliane Brum permite, em sua narrativa, que o leitor imagine as experiências que ela viveu. Ela usa seu trabalho para que o leitor consiga começar a refletir a realidade. O exemplo o carregador de malas (já citado), que graças a crônica da autora conseguiu realizar o sonho de voar. E com isso, ela também mostra que o jornalismo deve ser feito de perto. Perto dos acontecimentos. E que uma boa narrativa faz diferença e ajuda a mudar a realidade, mesmo que para alguns. E essa narrativa é feita com riqueza de detalhes porque ela "viveu" os fatos.
       Leitora desde muito pequena. Eliane Brum, consegue contar histórias. Ela narra acontecimentos simples, desde o Papai Noel, o "bom velhinho", que guardava uma história emocionante de vida; o homem que comia vidro e até a do analfabeto que fazia provas na universidade. Tudo narrado com uma leveza singular. Muitas e muitas histórias foram relatadas na obra. E elas ajudam a provar que o jornalismo feito apenas por fontes oficiais e pelos assuntos de sempre não basta. Histórias "novas" e simples fazem toda diferença. Nelas, podemos ver a realidade que nos cerca. E dessa realidade refletir o próprio mundo.
            Refletir sobre a realidade e sobre o jornalismo que é feito nos dias de hoje. Essa é a ideia central da obra. E não apenas como o jornalismo anda sendo praticado. E como a própria Eliane Brum afirma "a vida é bem maior que isso". 


































Foto: divulgação. Capa do livro A Vida que Ninguém Vê.



























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